Artigo: Porque falamos tanto de integração sensorial no desenvolvimento da criança?

Porque falamos tanto de integração sensorial no desenvolvimento da criança?

Artigo publicado em 15-7-2020

O processo de integração sensorial define-se como o ato de organizar as sensações do próprio corpo e do ambiente, podendo assim ocorrer respostas adaptativas por parte da criança. O processamento sensorial, é o processo neurológico normal, que organiza as sensações para usarmos na vida diária. Nós usamos as sensações para sobreviver, satisfazer as nossas necessidades, aprender e crescer em harmonia. Durante o primeiro ano de vida, a criança é exposta a múltiplos estímulos que permitem que seja capaz de desenvolver as competências adequadas a cada faixa etária. Através dos sentidos, obtemos a informação sobre as condições físicas do corpo e do meio que nos rodeia. Ao cérebro chegam continuamente um número infinito de informações sensoriais, não só através da audição, visão, olfato, paladar e tato, mas também, por dois poderosos sistemas sensoriais que se denominam por sistema propriocetivo e vestibular. O sistema propriocetivo permite á criança perceber como graduar a força e a postura quando faz uma atividade, como, por exemplo, pintar ou escrever exercendo a força necessária no lápis. O sistema vestibular permite manter o equilíbrio e informa-nos da velocidade e direção em que a criança se movimenta ou se está parada.

Além do desenvolvimento do processamento sensorial, as atividades sensoriais também são importantes para a promoção do desenvolvimento harmonioso, pois o brincar, seja ele centrado nos sentidos ou não, é benéfico para o desenvolvimento infantil. As crianças tornam-se mais criativas simplesmente brincando e explorando, permitindo desenvolver as competências linguísticas, cognitivas, espaciais, sociais e emocionais.

O brincar deve ser a principal ocupação das crianças nos primeiros anos de vida. Só assim, será possível melhorar as capacidades de autonomia, aprendizagem e auto-regulação das nossas crianças. Todas as crianças apresentam uma motivação interna para brincar. Devemos apoiar essa motivação e criar novos desafios de forma gradual, potenciando o seu desenvolvimento.

Temos vindo a perceber que existem cada vez mais crianças com dificuldades no processamento sensorial, com impacto significativo em diversas áreas de ocupação, como por exemplo, a capacidade de comer alimentos sólidos, manipular diferentes materiais com diversas texturas, aprender a baloiçar, aprender a saltar, andar de bicicleta, permanecer sentados na sala de aula, tolerar barulhos diversos, organizar o seu comportamento de acordo com as exigências do ambiente. Todas estas atividades dependem de uma boa integração sensorial. As exigências requeridas a uma criança de 4 anos são diferentes das exigências requeridas de uma criança de 7 anos, precisamente porque existem etapas de desenvolvimento que devem ocorrer de forma natural. Assim, atualmente, além de estarmos a expor as crianças demasiado cedo a estímulos visuais intensos como o telemóvel e o tablet, estamos também a permitir que as crianças estejam mais “paradas” e apresentem baixo desempenho nas atividades sensório-motoras. Assim, quando vir uma criança a brincar com objetos do dia-a-dia, como rolos de papel, caixas, canudos ou brinquedos, encoraje-a e potencie a sua criatividade.

Margarida Oliveira – Terapeuta ocupacional pediátrica, com especialização em integração sensorial pela Escola Superior de Saúde de Alcoitão

CEO e Diretora Técnica do Centro Terapêutico Margarida Oliveira